PLANOS DE SAÚDE
Consulta premiada
Médicos acusam operadoras de oferecerem bônus a quem pedirpoucos exames. Ganho extra pode chegar a R$ 16 mil por ano
Marinella Castro e Sandra Kiefer
Os exames complementares, que servem para confirmar ou esclarecer o diagnóstico clínico, se tornaram uma pedra no sapato das operadoras de saúde. Junto das consultas médicas, os procedimentos consomem 40% do custo do setor. Para conter a aceleração dos gastos com exames, que dobraram nos últimos 10 anos, os planos de saúde inventaram a figura da consulta premiada. Os médicos que cumprem metas e não fazem pedidos além do limite estipulado pela operadora ganham um bônus, que pode render um extra de até R$ 16 mil por ano. As denúncias partiram de pacientes e dos profissionais, que se recusam a aderir à prática que, segundo o Conselho Regional de Medicina (CRM), é uma tentativa de mudar a conduta do médico e por isso contraria a ética.
A Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) afirma que não tem conhecimento da prática da bonificação. A Unimed-BH reforça que não prevê regra ou normativa para estabelecer número máximo ou média razoável de exames por pacientes. “O médico cooperado tem total autonomia para decidir e indicar quantos e quais exames seu cliente necessita. Ele é quem define”, informa em nota oficial. No entanto, segundo a empresa, o cooperado que se mantém na média de exames/consulta de sua especialidade recebe um valor adicional pelas consultas realizadas naquele mês. Essa média não é definida a priori ou pela Unimed-BH e sim pela prática dos cooperados, variando mês a mês. A assessoria de imprensa da Agência Nacional de Saúde (ANS) informa que a agência não responde pela conduta individual das operadoras.
Pressões para reduzir o custo dos procedimentos médicos não são comuns apenas no segmento de exames complementares. A bibliotecária aposentada Rafisa Canals enfrentou uma batalha desde que seu médico ortopedista pediu ao plano de saúde uma prótese importada, para sua cirurgia de quadril. O valor da prótese fabricada fora do país, estimado em R$ 30 mil, era cerca de três vezes superior ao do produto nacional. A cirurgia foi negada pelo plano de saúde, mas autorizada pela Justiça. Apesar do sucesso obtido no procedimento, a satisfação da aposentada não foi completa. “Quando voltei ao consultório para a revisão, meu médico havia sido descredenciado do plano como punição por ter pedido um produto caro”, diz a aposentada, que enviou à operadora uma carta de indignação pelo corte do profissional de sua confiança.
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