CRM tenta coibir prática
Nos últimos 10 anos, o número de procedimentos realizados pelos usuários da saúde suplementar, uma população de cerca de 45 milhões, mais que dobrou. Por ano, o brasileiro costumava ir a uma clínica especializada ou ao laboratório menos de quatro vezes por ano. Agora o número saltou para 8,26 exames por usuário, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “A consulta bonificada é praticada por operadoras, preocupadas com o custo dos exames”, diz o presidente do Conselho Regional de Medicina, João Batista Soares. Segundo ele, é fato que os exames complementares se tornaram uma espécie de moda e há excessos. No entanto, reforça que o médico deve ser livre. “A consulta bonificada tenta mudar a conduta do médico, o que não é correto. Não há como manter esse estímulo e estamos discutindo com as operadoras para colocar um fim a essa prática”, afirma.
No interior do estado, a questão é mais grave. Para a Federação Nacional dos Médicos (Fenam), a polêmica em torno do alto custo dos exames complementares, estopim para o lançamento no mercado da consulta premiada, está relacionada aos honorários médicos. “É como se o feitiço tivesse virado contra o feiticeiro”, compara Márcio Bichara, secretário de Saúde Suplementar da federação. Na opinião da Fenam, o valor das consultas médicas está defasado. “Basta lembrar que os honorários médicos consumiam 40% do orçamento das operadoras, hoje correspondem a 20%”, aponta Bichara. Segundo ele, ao reduzir o preço das consultas, os atendimentos se tornaram mais breves e o pedido de exames cresceu para substituir o diagnóstico clínico detalhado. “Não queremos que o sistema suplementar acabe, queremos que ele melhore. A consulta bonificada é antiética e não resolve os altos gastos com exames. Não temos pudor nem vergonha de dizer que os consultórios estão entupidos, porque resta aos médicos sobreviver ganhando no volume de atendimentos”, pondera.
Cifra O sistema de saúde suplementar deve faturar em 2010 próximo a R$ 60 bilhões. De acordo com José Humberto Affonseca, diretor do Sistema Nacional de Saúde (Sinasa), os custos são os motivos dos conflitos entre médicos, pacientes e operadoras. Ele aponta que os gastos com internações hospitalares e procedimentos cirúrgicos são responsáveis por 60% do custo das operadoras e, por isso, há uma tentativa de reduzir essas despesas. (MC)